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dom Odilo Pedro Scherer |
Com um texto de 1940, o Código Penal,
em fim, está sendo revisado e reformado de acordo com os costumes da
atualidade. Desde 2011, uma comissão de juristas, nomeada pelo Senado Federal,
se reuniu periodicamente para debater e propor uma reforma completa do atual
Código. O texto final, com todas as propostas, foi entregue no dia 27 de junho
ao presidente da Casa, o senador José Sarney, que encaminhou o Projeto de Lei
do Senado nº 236/2012 para apreciação dos senadores e, em seguida, dos
deputados.
Em artigo intitulado “Código Penal:
Por que tanta pressa?”, publicado no último sábado, 8 de setembro, no jornal O
Estado de São Paulo, o cardeal arcebispo de São Paulo (SP), dom Odilo Pedro
Scherer, faz um crítica à pressa pela aprovação do texto.“Mulheres e homens
sensatos do Congresso Nacional, não seria melhor amadurecer mais esta reforma
do Código Penal?”, questiona o arcebispo.
Segundo dom Odilo, houve audiências
públicas, “mas reclama-se de uma escuta desigual do pensamento da sociedade e
de uma atenção privilegiada a grupos de interesse e pressão, em detrimento
também da comunidade especializada do mundo jurídico, que sente a falta de um
tempo mais adequado para a reflexão serena sobre as propostas de mudança”.
O cardeal destaca algumas propostas
controvertidas, entre elas está a do aborto. “Além dos casos de aborto ‘não
punível’ já previstos - em caso de risco de vida para a mãe; em caso de
estupro; em caso de malformação do cérebro -, introduzem-se, agora, casos em
que o aborto deixa de ser crime e outros, em que, mesmo ainda prevendo penas,
na prática essas não se aplicam. O aborto praticado sem o consentimento da mãe
será punido; mas se for praticado com o consentimento da mãe, a pena acaba não
sendo aplicada. Desse modo, resguarda-se a decisão de um sujeito adulto e
autônomo, mas não se protege o direito à vida de um sujeito inocente e
indefeso. Se o Projeto Sarney for aprovado, como proposto, a natureza lesiva do
aborto ficará radicalmente alterada”, diz dom Odilo.
O presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno Assis, esteve, no dia
30 de agosto, com o senador José Sarney, para entregar oficialmente um pedido
de extensão do prazo para o debate com a sociedade civil a respeito do novo Código.
O prazo já foi ampliado uma vez e a intenção da Conferência dos Bispos é que
este prazo possa ser estendido mais uma vez para que haja maior participação de
entidades, organismos da sociedade civil no aperfeiçoamento do Código.
Dom Damasceno também conversou com o
senador sobre outros assuntos ligados ao Código Penal, como o aumento da
penalização, que segundo o cardeal “vai resultar numa superpopulação das nossas
prisões”, questões sobre a vida humana, “que deve ser preservada desde o seu
início até o seu termino natural” e a eutanásia.
“O que queremos é que alguns
princípios norteiem o nosso Código Penal, como o princípio da pessoa humana, o
bem público, a convivência social, e que o novo Código não haja só a
preocupação de penalizar, mas que tenhamos alternativas, como as chamadas Penas
Alternativas”, explicou o cardeal arcebispo de Aparecida (SP).
A CNBB, ao final da 50ª Assembleia
Geral dos Bispos, aprovou a criação de uma Comissão de especialistas a fim de
também dar sua contribuição sobre o projeto do novo Código. Outras entidades
como a Ordem dos Advogados do Brasil, o Instituto dos Advogados Brasileiros, o
Conselho Nacional do Ministério Público, igrejas evangélicas, seguem o mesmo
caminho.
Outras opiniões
“O debate sobre o novo Código Penal
exige tempo e cautela”, afirmou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Ophir Cavalcante, durante audiência pública realizada no mês passado, em
Brasília (DF). Ele pediu pelo menos 60 dias para que a análise seja madura e
profunda.
“Este é um Código que mexe com a vida
das pessoas e lida com o bem maior do ser humano: a liberdade” ressaltou Ophir.
Ele ainda explicou que a OAB também criou uma comissão de juristas para estudar
a reforma do Código.
Para Ophir, é preciso cuidado com a
elaboração de uma legislação com base no clamor popular. Ele admitiu que o
cidadão brasileiro não tolera mais a impunidade e outros desmandos, mas
obervou que não deve haver precipitação no novo Código. Ophir disse ainda que
questões como maus-tratos a animais, crimes ambientais e bullying precisam de
uma reflexão sociológica. Em sua opinião, o bullying, por exemplo, deve ter um
tratamento mais educativo e menos penal.
O presidente do Instituto dos
Advogados Brasileiros (IAB), Fernando Fragoso, também pediu que a análise do
novo código seja feita sem pressa. Ele lembrou que o debate sobre temas
polêmicos, como a ampliação das possibilidades do aborto legal, será importante
para a sociedade brasileira.
Já Taís Schilling Ferraz, integrante
do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), disse que o conselho também
não esgotou o debate sobre o assunto. Ela afirmou que a elaboração do novo
texto legal é um grande desafio, que exige tempo e dedicação.
Taís criticou a diminuição de algumas
penas e prometeu encaminhar, à comissão especial, sugestões sobre crimes contra
crianças e mulheres.
Da redação CNBB
Postado por Jaynilton C.Rodrigues
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